Qual é o maior prazer da leitura? O que faz as pessoas que gostam de ler abrir um novo livro para inserir-se em uma nova viagem? Antes, para mim, uma boa leitura era daquele livro que não se conseguia parar de ler, com uma história impactante, de tirar o fôlego! Uma história que me faz pensar hoje é o que mais gosto. Não consigo dizer ao certo o que chamou tanto a minha atenção em "Neve", de Orhan Pamuk. É uma mistura que ainda não havia visto: política e temas universais (solidão, amor, ciúmes...). É de uma fidelidade ao nosso dia-a-dia que até o fim do livro me perguntava se aquilo era uma biografia ou um romance de ficção.
Não há nada mais amedrontador do que a solidão absoluta. A completa ausência do amor. A completa ausência da amizade. Enfim, não ter nada a seu redor. Nossa sociedade capitalista impõe o consumismo. Chegamos a um limite tão absurdo que nos é imposto o consumo de pessoas. Porém, quando se acabam as pessoas por quem nós nos interessamos, resta-nos a profunda solidão. Nosso interesse não é mais do que isso: interesse. Não há amor, pouco provavelmente há a paixão, talvez o gostar. Só. E vamos nos entregando aos prazeres momentâneos. Ficamos uma vez e vemos como é bom sentir o oxytocin correndo em nossas veias. Sentir o modo peculiar que cada pessoa tem de beijar. "Ela gosta de música?" "Não sei" "E de ler?" "Não sei" "O que você sabe?" "Nada, não fui lá para conversar." E assim mantemos nossas relações no superficial.
Não há vontade de se apegar, de amar, de dormir pouco, falar muito ao telefone. E por quê? Porque pode dar errado! Vivemos numa sociedade em que o sofrimento é inadmissível. Um mundo light. "O casamento está ruim? Deixa ele(a)! Pra que sofrer? Pra que tentar? Se está sofrendo, é porque não serve mais!" E essa é a nossa vida. Queremos algo sem esforço, de preferência ao toque do controle remoto, para que não nos levantemos.
"O doce não é tão doce sem o amargo."
E continuamos na nossa peregrinação carnal rumo a... rumo a quê? Com que intuito se beijaram? Sem nenhum intuito, não é necessário isso. O.k. Sentindo o que então? Ah, sentindo um enorme desejo, um fogo... Não, refiro-me a sentimentos: amor, paixão, carinho. Han? O que é isso? (Risos) Está de brincadeira, não é? Não se pode mais desejar ninguém? Pode, não tiro o seu direito, é mais do que normal e necessário. Mas o que mais sentes? Vou deixar você filosofar em paz...
Rumo a quê? Vamos vivendo sem ter idéia de que estamos correndo atrás. Sem sofrimento, posso ter certeza disso! Mas sem alegrias? O que é uma vida sem a felicidade? Pensa-se viver em eterna alegria, não sabendo ele que vive há muito tempo confortavelmente entorpecido. Pelo menos não sofro! Realmente sofrer não é bom, mas é necessário. Se o sofrimento é intenso e constante, há algo errado. Mas fugimos tanto da tristeza que nos perdemos da felicidade. E nos perdendo da felicidade encontramos a solidão. A profunda solidão...
Talvez ainda assim não nos arrependamos, pois estamos ricos, ou vivendo tranquilamente. Temos uma casa com piscina, dois carros, e o dinheiro para comprar qualquer mulher. O único consolo que nos resta é o de saber que, se juntarmos dinheiro a vida toda, não compraremos o carinho de uma pessoa. Pode ser que consigamos que ela sinta pena de nós, por, tolamente, pensar que podemos comprar qualquer sentimento que seja. O problema é que não vamos levar nem a piscina, nem os carros e nem o dinheiro. Pior: não vamos ter deixado nenhuma marca profunda em alguém. Talvez façamos história, talvez mudemos a economia, a física, a química, mas nossa maior marca vai ser numa pessoa em especial. Portanto, sairemos da nossa existência mundana com o saldo neutro.
Talvez nos arrependamos. Obtivemos um crescimento pessoal maior do que o grupo de pessoas citados acima! Infelizmente, a vida não é tão complacente com erros prolongados e demasiadamente avisados. Procuraremos uma forma de corrigir os erros; verificaremos, contudo, que não são tão fáceis assim. Encontraremos uma pessoa que tenha cometido os mesmos erros e está disposta a tentar a chance de ser feliz. Mas se há algo mais difícil do que perceber o erro de uma vida inteira é vivenciar uma nova vida. E provavelmente um dos dois desistirá, deixando-os a pensar sempre que perderam mais uma chance. Alguém que um dia marcou minimamente a vida de cada um de nós surgirá à nossa mente e nos trará a doce ilusão de que nós tínhamos o amor de toda uma existência. Tínhamos... E continuaremos a viver, sentindo o gosto insípido da solidão... Até o fim.
E tudo isso graças à hexagonal neve de Kars...
Qual é o maior prazer da leitura?
=)
Thiago Luiz
3 comentários:
Enfim...
"What is happiness to you, David?"
O que é felicidade, Thiago? Você acredita ser X, eu acredito ser Y, mas todos nós estamos constantemente em busca daquilo o qual chamamos felicidade. E que felicidade é essa que só vem quando algo minuciosamente projetado em nossa mente é, finalmente, encontrado? O que é essa felicidade consumada apenas no realizar dos nossos sonhos, do meu querer, do seu querer, de um plano tão individual? Eu, sinceramente, não acredito nessa felicidade. Primeiramente, é como se dependesse apenas de mim, e isso é um tanto quanto narcisista. Não posso depender inteiramente do meu "eu", tampouco depender inteiramente do outro. Aquilo que sou, que tantas vezes já fui, o qual denomino 'feliz', vem de pequenos momentos construídos numa caminhada com aqueles que amo (e acho que, nisso, nós dois concordamos ;D ).
Por que ser a felicidade um estágio terminal, uma espécie de nirvana que muitos afirmam só passar por isso uma vez na vida? Se é algo tão bom e tão procurado, é maldade ser feliz somente uma vez. Eu não, sou várias vezes. E não importa se você sofre agora, o sofrimento faz parte da construção do seu 'eu' durante a sua caminhada. Como você contemplou de forma louvável em seu texto, o sofrimento é necessário, não de forma trágica, mas de maneira a nos fazer refletir sobre nossos erros - que não são poucos. E é aí que se encontra a felicidade: aquela dos pequenos instantes de coragem e de vitória, de olhar para trás e reconhecer suas atitudes e não hesitar ao tentar um novo caminho.
Como diz Tia Celinha, minha querida mãe: "Não se trata de uma conquista no fim da linha, mas de conquistar cada momento, seja ele ruim ou bom".
"Sem o amargo, o doce não seria tão doce."
Pois é, quem disse que viver nesta terrinha iria ser fácil?
E quanto aos livros...
"E penso que o meu mundo seria muito pobre se em mim não estivessem os livros que li e amei. [...] Os livros que amo não me deixam. Caminham comigo. Há os livros que moram na cabeça e vão se desgastando com o tempo. Esses, eu deixo em casa. Mas há os livros que moram no corpo. Esses são eternamente jovens. Como no amor, uma vez não chega. De novo, de novo, de novo..." Rubem Alves
Sou suspeita pra falar sobre eles ;D
Desculpe pela "filosofada", só me empolguei um pouquinho. Como sempre, amei seu texto, a diferença é que esse me pegou numa hora de "sentimentalismo brutal". Já viu, né?
Beeeeeeeeijo ;*
obs: O MELHOR é lá no isolado, Neide comentando sobre o primeiro conto do livro de Drummond pro vestibular... uma das personagens é Tito! Adivinha de quem eu lembrei??? (Te dou um doce se vc adivinhar! sahushauihusias)
A leitura é, acima de tudo, uma companheira. Quando as pessoas ao seu redor não lhe dão atenção ou não o compreendem, a leitura surge como a única que lhe dará atenção e compreenderá suas reclamações, suas dúvidas, enfim... seus sentimentos.
Ela é mais que uma fuga da realidade. Na verdade era melhor que ela fosse a realidade e isso que nós vivemos fosse a fuga (fiz-me entender?).
Portanto, leiam! Não parem de ler! Recomendaria que vivessem só de leitura, mas infelizmente somos Seres Humanos, e como tais devemos viver a realidade indesejada.
Quem lê muito, escreve muito, e muito bem. Vejam só meu amigo Thiago (pra quem eu estou dizendo isso?!).
Você sempre se utilizando de Vanilla Sky... Esse filme é uma fonte infindável mesmo!
Amigo, sou seu maior fã e sei que não sou o único a dizer isso. Seus pais, namorada e alguns outros amigos dizem o mesmo; e não metem. Então você tem vários "maiores fãs".
Prossiga escrevendo. Sugiro que publique seus textos. Um dia alguém, que não eu e seus poucos leitores, os lerão e você fará muito sucesso por causa deles. Caso você não queira esse sucesso, continue no pseudo-anonimato!
Do seu amigo,
André Palhano
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