Eu não sei falar pouco, ainda mais de tanto. O sensocomum diz que vivi pouco. Não bebo, não fumo, não me drogo, não gosto de festas, não gosto de multidão. Acho tudo desagradável. Talvez eu tenha vivido pouco. Namorei apenas uma vez. Procuro viver a castidade e isso numa roda de colegas de trabalho é extremamente curioso. Nunca dancei até passar mal, nem bebi até desmaiar, nem fiquei com quatro mulheres num mesmo dia. Vivi pouco. Vi muito.
Vi minha vida sem rumo. Vi-me a procurar um rumo e sem encontrá-lo, mesmo estando, muitas vezes, no local certo. Vi-me solitário, triste e desesperançoso, a chorar a cada nova comunhão com o Divino. Não sabia que ali estava meu sentido. Vi-me desesperado em busca de satisfazer o outro. Encontrei-me amando o próximo sem nem conhecer o amor. E esse tipo de amor nos causa tanta revolta. Esse tipo de amor me fez comunista. Revoltei-me com todas as injustiças do mundo, mas jamais Te culpei. Nunca fui covarde. Sabia das consequencias dos meus atos. Se não culpava o homem, culparia alguém que está tão acima disso?
Vi-me rancoroso, sem coragem de falar aquilo que pensava. Discordando, mas agindo como se concordasse. Tão cego fiquei que me deixei ficar mais cego ainda pela paixão. Apaixonei-me e me destruí. Não foi preciso um vilão ou uma mocinha. Conheci-Te tão superficialmente que pensei que poderia escolher em que Te seguir. Isso me destruiu. Acabou com a minha vida. Encontrei-me morto diante de Ti. Colocaste-me de pé, a olhar Teu Filho na cruz, sofrendo a minha dor, libertando minhas prisões, curando minhas chagas, morrendo a minha morte. De pé me fizeste permanecer. Encontrara o rumo.
Vivi pouco, mas já vivi o Tudo. Vivo o Tudo. Mesmo na loucura do mundo moderno. Vivi pouco, vivi tudo, vi o bastante. Vi dor, tristeza, alegria, desespero, esperança, desalento, loucura, sobriedade, humildade, soberba. Vi Deus. Lembrar minha história sempre me remete a Ti. O que eu era antes, procurando a Ti sem saber, o que eu me tornei e o que eu busco. Tu és meu prólogo. Serás, um dia, meu epílogo.
Tu és a minha vida.
Um comentário:
"Vivi pouco, mas já vivi o Tudo. Vivo o Tudo.(...) Tu és meu Prólogo. Serás, um dia, meu epílogo. Tu és a minha vida."
Gostei particularmente desse trecho, em especial.
Ótimo texto cara. Deus abençoe.
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