Experiências que nunca vivi

Definições de uma, ingênua, mente de 18 anos

- Pai, o senhor tem um minuto?
- Claro, filho.
- O que é amor?
- Nossa, amigão, que pergunta profunda. Poderia passar dias apenas falando. Deixe-me ser breve: você já percebeu como eu trato sua mãe? Sempre a abraçando e dando carinho?
- Sim, claro.
- Pois isso é o amor. Somente faço isso porque a amo.
- Então quer dizer que eu amo Lolita, nossa cadelinha?
- Pode-se dizer que sim. De uma maneira diferente, mas sim.
- Por que me disseram que o amor é capaz de mudar o mundo?
- Ah, ok! Entendi aonde queres chegar. Deixe-me adivinhar: a pessoa que te disse isso tem 15 anos!
- Não, dezesseis.
- Quase! Bem, num mundo utópico isso talvez fosse possível.
- Utópico?
- Irreal; perceba: o amor é o mais genuíno dos sentimentos. Quando você o sente, somente espera o bem daquela pessoa que tu amas. Isso normalmente ocorre na adolescência, entre os 14 e os 17. É aí que todos nós pensamos ser capazes de mudar a história somente com o nosso coração. O problema é que, conforme o tempo passa, percebemos que nem todos pensam como nós. Na verdade, é totalmente o oposto. As pessoas têm muitas outras coisas para pensar. Elas um dia tiveram esse mesmo ideal. Não por acaso não raciocinam mais daquela forma. O mundo fê-los mais duros e frios. E a partir daí formam-se basicamente três tipos de pessoas: as que não aceitam o fato de não conseguirem amar como antes. Esse indivíduo tentará, para sempre e em vão, mudar o curso da sua história. Alguns têm sorte: encontram, de verdade, o amor; outros vivem, e morrem, à espera dele. O segundo tipo é o que aceita ser endurecido e esfriado. Esse vive aparentemente bem, mas por dentro, se pergunta todos os dias o que teria acontecido se não fosse tão conivente. E o último é aquele que encontra um outro amor; mais material do que o original, não dá uma alegria tão completa como este. É, contudo, suficiente para quem assim prefere.
- E eu um dia vou me iludir assim, pai?
- Com certeza, amigão. Mas ilusões são a base para nosso crescimento. No meu caso, foi o princípio da minha vida.
- Por quê?
- Porque conheci sua mãe através de uma ilusão.
- Então se iludir não é de todo ruim?
- De forma alguma.
- Sabe o que acabo de pensar, pai?
- O quê?
- Que o senhor não me definiu o que é amor. O senhor apenas mostrou o que acontece quando se ama.
- Ok. Veja sua mãe à porta do escritório. Amor é simples. É somente conseguir olhar para dentro dos olhos negros dela após 28 anos juntos e conseguir ver porque a amei desde que a encontrei.
- E por que o senhor ama a mamãe?
- Porque, filho, até hoje eu olho para ela e meu coração dispara. Porque, mesmo com 50 anos de vida, quando estou distante de casa e triste, eu tenho a certeza de que, ao ver sua mãe e senti-la me abraçar, toda a tristeza irá passar.
- Como nos filmes?
- Melhor que nos filmes! Mas não é somente homem e mulher que podem se amar. Eu, por exemplo, amo você amigão. Você é minha cópia. É proveniente daquele sentimento que eu falei antes. Eu quero passar segurança a ti. Eu preciso de você. Ah, mas agora vai dormir, antes que teu velho chore.
- Certo. Boa noite, pai.
- Boa noite, amigão.
- Ah, pai, sabe o que eu descobri agora?
- O que, filhão?
- Que eu amo você.


=)


Thiago Luiz

3 comentários:

Suzane Borba disse...

não sabia que, além de escrever bem, você também consegue fazer alguém chorar.

Jullyana disse...

você tem o dom da escrita e ja ta mais do que comprovado.
além disso,me faz chorar quase toda vez!
como pode?
como pode alguem escrever tão bem?
enfim,tinha que ser o 1º lugar ;)
te amo feeeeeeeeeerrrrrrrraaaaa:)

Daniel Fernandes disse...

Realmente, o texto magnetiza qualquer um por sua pureza e sensibilidade. De forma original e fluida, conseguimos perceber a essência do amor, que reside na simplicidade. Como havia te dito, a boa escrita é aquela que se faz sentir. Através desse texto, podemos sentir o que é o amor, não apenas aquele romântico, eternizado no melodrama de Romeu e Julieta, mas também o fraterno, tão essencial mas pouco lembrado. Parabéns pelo talento, continue cultivando-o e aperfeiçoando-o!