Experiências que nunca vivi

Gostaria que minha escrita perdurasse. Fosse lida por jovens do mundo todo em tempos futuros, impensáveis nos dias de hoje. Escrever me parece ser algo doce, sentido a cada letra, cada palavra. Provavelmente, os textos que concebi morrerão nas páginas virtuais do mundo cibernético. Não é autopiedade, mas consciência das minhas características. É-me duro revisar aquilo que escrevi, pois, embora nem sempre verdadeiro, ou de qualidade, tudo que está ali contido foi sentido previamente. Até por isso, meus textos versam, em essência, sobre o amor.

Não consigo fugir disso. Olhando pelo lado positivo, tal tema me faz buscar sempre melhorar, haja vista que nada que eu escreva me fará olhar e dizer “Pronto, eis o amor”. Disse um sábio sacerdote: “Quem se define, se limita”. “Deus é Amor” (1 Jo 4, 16). Eis o limite de Deus: seu começo, meio e fim. Perdoem-me a fuga de tema, mas não há como falar de um e não falar do Outro.

Os estudiosos da língua lerão o texto e perguntarão a seus alunos: “Qual é a intenção comunicativa do autor?”. Facilitando a vida de todos: comecei a escrever esperando que fosse algo doce, simples, amoroso, terno. Terno, essa é a palavra.
Talvez eu tome demais o tempo de vocês. Não sei, mas, se ele vos for curto, não o perca, pois nem eu sei o que acontecerá aqui.

Chegaram todos à sala de jantar. Eram em cinco. Dois homens, sendo um o patriarca e outro o filho mais novo, e três mulheres, sendo uma a mãe e as duas filhas mais velhas. Como de costume, todos se revezavam no auxílio ao jantar. Riam, conversavam coisas banais, brincavam. A filha mais velha, entretanto, cumpria suas funções de forma robótica. Silenciosa, olhar vago e dispersa, assim ela se encontrava.

Sentaram, então, os cinco e começaram a refeição. Enquanto comiam, contavam os acontecidos, desde os cômicos aos trágicos, os quais, por sorte, eram escassos hoje.

O pai percebeu o silêncio vindo da mais velha.

- Clara, o que houve?

Todos pararam a conversa e voltaram o olhar a ela. Clara abriu seus lábios algumas vezes, palavras eram sussurradas, ninguém ouvia. Alguns segundos mais, lágrimas correram por sua face buscando consolo à sua senhora. Imediatamente, seus irmãos aproximaram-se e abraçaram-na. Não havia necessidade de se falar mais nada. O pai se levantou, trouxe-a próximo ao peito e ela desatou em prantos. Ele, então, encaminhou-a ao seu quarto, seguido como súditos por toda a família. Deitou-a em seu colo, enquanto todos sentaram-se próximos.

O pai olhou a cena, percebeu que todos haviam se esquecido do jantar. Pensou em como aquilo não tinha importância agora. Eram uma família.

Olhou a esposa, cujo olhar transbordava ternura. Seu silêncio era de maturidade, como se antevisse a cena e sabia exatamente como cada um iria se comportar. O marido sonhara com aquilo durante uma vida inteira. Muito imaginara ao sonhar, muito lutara para conseguir aquilo.

Mais uma vez, olhou a sua esposa. Ela devolveu-lhe o olhar. Permaneceram assim, como que sós, por alguns instantes. Sabiam o que um queria dizer ao outro.

- Você esperou por mim – dir-lhe-ia ele.
- Eu não disse que iria esperar? – responderia ela.
- Nem sempre o homem cumpre aquilo que promete.
- Não importa. Eu cumpri.
- Muito obrigado.
- Eu te amo.
- Eu sei.

Voltaram a se preocupar com sua família. Atualmente, havia pouco tempo para os devaneios juvenis, as palavras sussurradas ao pé do ouvido, o “eu te amo” repetido incessantemente. O pai pensava na contradição: quando jovem, falava muito mais no poder do amor e acreditava muito menos. Quando homem, não falava, mas tinha certeza: o amor ainda vai mudar o mundo.

- Obrigado, Papai do Céu – disse o patriarca.
- Obrigado, Papai do Céu – repetiu, em uníssono, a família.
- Não se preocupe, filha. Somos uma família.

Ela o olhou, sem entender. Viu os olhos marejados e abaixou a cabeça, em silêncio, como se aquela frase contivesse uma sabedoria que ela ainda não era capaz de captar. O pai sentiu a fome em seu estômago e sorriu. “Somos uma família.”

3 comentários:

Unknown disse...

Posso dizer dizer que sou fã dos seus textos? a resposta é siim =D

André Palhano disse...

nunca viveu, mas viverá! :D

Amanda Conrado. disse...

nunca viveu, mas viverá! :D [2]
Texto lindo, como sempre.

Sinto tanto sua falta!