- Alô? Oi... Tudo bem, sim. Não, não, eu viajei, tou aí não.
Começou então a se distanciar das 4 pessoas que estavam conversando com ele. Um olhar então me chamou a atenção: o de sua namorada. Se há algo escandalosamente errado num namoro é quando se desconfia de tudo feito pelo outro, inclusive de uma mera ligação. Seu olhar era inseguro, de medo. Por um momento pensei: "Onde está a desconfiança?". Apesar de inspirar receio, era como o receio de algo certo. Não havia desconfiança. Era o medo de enfrentar mais uma vez a certeza que surgia. Como enfrentá-la?
De receio, passou à raiva. Seus olhos fitavam o namorado com uma força invisível. Aquele poder que somente uma mulher é capaz de empregar em qualquer coisa que faz. E era isso que seu olhar gritava. Havia raiva, quase ódio, porque a linha entre o amor e o ódio é tênue, já diria alguém sábio. O tal sábio só esqueceu-se de avisar que essa linha só é fina quando o sentimento é unilateral; somente se tem zelo por aquilo que significa algo para a outra pessoa. O tamanho do zelo é o tamanho do significado, por consequência do sentimento. Ali, era unilateral. Ela pensava que era capaz de amar o suficiente pelos dois no relacionamento.
Enquanto gritava raiva, baixou a vista por um instante. Talvez a pensar alguma coisa. As 4 pessoas calaram-se, como se o olhar da namorada tivesse dito o motivo da ligação, da distância, da frivolidade, de tudo. Levantou os olhos mais uma vez. Já não havia raiva; era somente tristeza. O coração doeu, porque a verdade é absoluta. Mesmo que machuque, que inquiete. A verdade é absoluta. A constatação da verdade pode nos fazer sentir uma imensidão de sensações. Naquele momento, a verdade trouxe somente uma sensação: tristeza. A raiva transformou-se em tristeza porque ela percebeu que não poderia culpá-lo. Percebeu que na vida não há mocinhos e vilões, quão bom seria isso; não haveria vilões, porque a nossa mente é capaz de nos convencer de fatos inimagináveis. Então, em nossas mentes, seríamos todos as vítimas, os inocentes. A vida não é assim. Somos todos vilões e mocinhos, caça e caçador... E ela poderia ter evitado aquilo. Aquela situação não aconteceu instantaneamente. Ela foi sendo construída com as opções feitas em cada dia, com o silêncio que consentia, com o silêncio que evitava brigas e discussões, porque é "isso que destrói o relacionamento". Mas não percebeu a mudança natural do dia-a-dia, só conseguiu perceber que estava fora de controle quando, bem, estava fora de seu controle...
O que ela não entendia era como não conseguia se separar daquilo. Não entendia que criou uma dependência. Não conseguia mais viver sem ele, pois achou que amor e paixão eram o mesmo. O amor é saudável. A paixão nos consome. Deixou-se levar pela paixão, já que ela nos faz sentir tão bem, tão leve quando correspondida. Não entendeu que a paixão domina se não dominada. Não entendeu que ela a havia dominado. E ali era refém da relação. Precisava estar com ele para se sentir bem. Dizia-o "eu te amo de verdade", quando não amava. Não por falta de querer, simplesmente porque o amor não é atraente, o amor não é sentimentalismo barato, é decisão, é acreditar, é confiar, é se colocar acima do que sente pelo outro. Amor nos faz lembrar que nos amamos antes de tudo. Paixão nos domina. Era refém, não namorada. Enamorada é estar envolvida de amor. Não havia aquilo a envolvendo. Havia indiferença. Somente indiferença.
Simplesmente indiferença.
- Quem era?
- Ah, uma amiga...
5 comentários:
Acho que se fosse comentar algo, seria o que você já sabe.
Well, sendo o mais fria e calculista possível, posso dizer que não tenho pena da garota. Mas também não tenho simpatia pelo outro. O egoísmo 'tá envolvido aí, sem dúvida. E a culpa é de ambos :P
só me resta dar um sorriso bem amarelo e dizer que amei seu texto!
:)
eu não a culpo... às vezes nosso subconsciente fala mais alto!
é.. é ..
quanto ao texto, muito bom rapaz;
todas as sensações, desde o olhar foram todos bem passados, deu pra sentir até.
E tudo foi apenas uma ligação..
o quanto todos confudem os sentimentos, se deixam levar por tanto e as vezes por nada.
Na verdade, não é bem culpa de ninguém, acontece.. paixão é assim,
cobrança é assim, indiferença é assim.
Muito bom seus escritos,excelente.
Passarei sempre por aqui.
Feliz 2009!
Abraço.
"-Consequences David. Little things.
-The little things... There's nothing bigger, isn't it?" (Vanilla Sky)
Belo texto!
Postar um comentário