Imediatismo

Estava assistindo a uma série. Aquelas bem melosas, clichês, que tem casais felizes, histórias óbvias, resumindo, uma série teen. Apesar de saber tudo isso, assisto para manter meus devaneios juvenis. Possivelmente ninguém vai entender, mas eu gosto de ainda imaginar toda aquela baboseira utópica. Penso que no dia em que eu não puder mais criar situações juvenis, ou até mesmo infantis (quem me conhece sabe), serei uma pessoa extremamente, mas EXTREMAMENTE, insuportável, pois é somente esse o meu “atrativo”, chamemos assim. De resto, sou como o resto.

Enfim, voltando à primeira frase: estava assistindo a uma série teen, quando um dos casais, argumentando por que eles deveriam estar juntos disseram:

- É o destino estarmos juntos.

Tudo bem, é uma série para jovens como eu há alguns anos atrás. Mas o que me chamou a atenção nessa frase é que ela é mais comum do que parece. Se temos um relacionamento e ele deu errado, “não era pra ser”. Se ele trai a garota, “ele não era dela”. E por aí vai... Qual é o absurdo nisso, talvez alguém me pergunte? Explicito: não entendo como uma sociedade auto-proclamada tão racional, que tenta a cada novo dia provar por A + B que Deus não existe, que somos somente a razão (mesmo diante de tantas tragédias dignas de homens da caverna), etc. fala tanto nesse tal do “destino”. Às vezes me parece que destino é uma pessoa. Será que ele tem nome completo? Como Destino dos Conformistas, ou talvez Destino dos Conformistas Orgulhosos, ou ainda Destino dos Conformistas Orgulhosos e Cegos. É possível que seja algo desse tipo.

Essa conversa de destino me irrita. Primeiro, porque, imagino eu, tenha surgido de uma teologia estapafúrdia, vamos chamar assim, para não chamar mais, que diz que nosso destino já está traçado no nosso nascimento. Ou seja, antes mesmo de nascermos Deus já disse “Esse é o cara”, como disse pra Romário, segundo o próprio, ou então “Acho que vou entregar este ao Capeta”. O leitor com senso de humor grande (como eu, que rio por tudo) deve ter achado engraçada essa frase. Porém, isso é realmente a teologia. Obviamente não dessa forma. Mas a teologia de Calvin (Calvinismo) diz exatamente que, não importa o que você faça, já está determinado seu destino. Segundo ele, ainda, isso se reflete em como as pessoas agem na terra. Por exemplo, um ladrão é um ladrão porque Deus quando o enviou para cá o fez uma pessoa pronta para o inferno, ele reflete apenas a “vontade de Deus” (ou seja, se o Brasil fosse um país adepto dessa doutrina, nenhum ladrão seria preso). Bom, graças a Deus eu não acredito nisso. Não entro nem no mérito do certo ou errado, porque é questão de fé, mas ainda bem que essa passou longe da minha cabeça.

Voltando à minha irritação: devido a essa história de Calvin, o “destino” tornou-se uma pessoa muito popular. Destino isso, Destino aquilo. De pessoa popular, ele passou à desculpa para nossas falhas, nossos erros e misérias. Mais uma vez: explico-vos:

Pergunte a uma pessoa se ela acredita em destino. Se ela disser que sim, então pergunte por que ela ainda faz alguma coisa, já que o tal “destino” se encarrega de tudo. Provavelmente ela vai dizer que nós temos que dar uma “ajudinha” também. Agora vem a parte divertida: se ela tiver acabado um relacionamento, é possível que ela diga que não era o destino dos dois estarem juntos. O primeiro fato curioso é que, se não era pra ser, por que foi por algum tempo (deu pra entender essa frase?)? O segundo fato curioso é que se você levantar uma outra hipótese (super absurda, diga-se de passagem!) de que talvez tenha sido porque os dois não souberam lidar com certas dificuldades, logo será taxado de mau amigo, negativista, etc. Moral da história: nós podemos dar uma “ajudinha” ao destino, nunca uma “atrapalhadinha”. Por isso, o Destino se chama Orgulho ou Conformismo, como queira e dependendo da pessoa.

Sim, mas e daí? Pergunta o leitor.

Volto à benedita série. Através dessa conversa de “era pra ser”, “o destino nos aproximou”, bla bla bla, discutem-se relacionamentos, acabam-se e se iniciam relacionamentos. Por ser algo também (e não somente) baseado na emoção, o namoro acaba sendo todo fundamentado, discutido, concordado, discordado na base do “você me ama?”, “seu amor não é o suficiente?” e todas essas perguntas extremamente produtivas para um namoro. Namoro, INFELIZMENTE, não é só beijinho pra lá, beijinho pra cá, eu te amo, tu me amas e fadinha de rosa circulando ao redor do feliz casal. Namoro é pra ser, sim, racionalizado. Sabe por quê? Porque amor não basta. Amor de homem x mulher não basta em muitas situações. Esse tal amor que dizem ser somente uma ótima sensação em nossos corações não basta. Nós amamos pouco e com falhas, porque esse sentimento reflete quem somos: pessoas limitadas. Muitas vezes, esse amor se limita por isso e é insuficiente para um namoro. A questão é que tudo é voltado para o imediatismo. Para o agora. Não se pensa, por exemplo, que o Destino dos Conformistas pode até ter levado uma pessoa para junto de ti, mas só porque ele se parece contigo, ou é completamente o oposto, não significa que ele é para estar junto de ti. Há muito mais a se considerar num namoro do que isso. O mesmo vale para namoros que já estão ocorrendo. Discussões terminam com choro desnecessário, somente para acabar aquela briga. A criatura que faz isso não percebe que somente atrapalha. Fruto de sua mente imediatista, ela só consegue pensar em acabar aquele mal estar naquele momento. Não percebe que a irresolução do problema criará outro(s) algum tempo depois.

Meus caros, amor não é só clichê. Amor vai muito além disso. Clichês nos levam à superficialidade e relacionamentos curtos e rasos. Clichês nos levam a terminar um relacionamento e não crescer nada com esse fim. Clichês nos levam a crer que casamentos serão sempre tecidos macios no rosto e não tapas na cara. E, com essa mentalidade, adentramos a um casamento que, quando acabam as sentimentalidades (sim, elas eventualmente acabam), não resta mais nada a ele, simplesmente porque não há nada a restar, já que o casamento era todo sentimentalidades. Clichês nos levam à nada.

5 comentários:

Vanessa disse...

Erm. Eu acho que nossa vida é um grande clichê. Então, não diria que sempre leva a nada - isso depende muito de cada um XD mas não discordo do que você disse.

E... meu Deus, eu realmente queria saber de onde você tira tanta inspiração pra postar tão rápido e tanta coisa, ahaihiauhaiuhiau. Ok, até entendo. Geralmente acontece comigo - estar assistindo/fazendo alguma coisa e de repente bater aquela coisa de: preciso escrever sobre.

E... [2] é isso aí XD
Acho que eu tô com muito calor pra realmente conseguir comentar alguma coisa tragável D: e é melhor parar de falar do que começar a falar besteira ;o (acredite, se eu continuasse, seria irreconhecível XD).

Ah, Jesus, preciso de um banho >.<

André Palhano disse...

concordo com felicity... a vida é toda um clichê. o problema é que poucos se apercebem disso e vivem seguindo padrões prestabelecidos. sinta-se feliz por não ser um desses tantos "alienados" e continue a divulgar as suas idéias, que são muito boas! ;)

Renata Cruz disse...

depois de quase um mês, li o comentário que vc deixou no meu blog.. vc tem total razão no que disse lá, e total razão nesse post aqui. Se a vida fosse isenta de mentiras e clichês como esses, sofrimentos seriam evitados. Mas nada como transformar td isso em amadurecimento :D
Ótimo blog
bjo

Thiago Mariz disse...

esqueci até de comentar...


a vida é um clichê. dia desses tava pensando exatamente que clichês não são clichês à toa.

Suzane Borba disse...

vou discordar de todo mundo aqui!!!
hehehehe
clichê? a vida não é um clichê, nós é que adoramos torná-la inútil e superficial. não tem jeito, é da essência dos descendentes de macacos.

e amor de verdade não é clichê. se sentimentalismo (leia-se: sentimentos de verdade!) for clichê, então eu digo que toda a humanidade está perdida. e como está!

beijão, Tito!