Desperdício de Potencial

Bem, tenho uma mente fértil, como os que lêem minimamente esse blog já sabem. De uma pergunta besta, um comentário estúpido, um filme se desenrola na minha cabeça. Comento isso por algo que aconteceu comigo semana passada. Um colega meu da faculdade sentou-se ao meu lado e desenvolveu a seguinte conversa comigo:

Ele: Tu tá se perdendo aqui.
Eu: Han? Como assim?
Ele: O curso, boy. Tu é inteligente demais pra estar fazendo Química Licenciatura só. Poderia fazer uma Engenharia aí, tentar uma faculdade melhor, ITA, essas coisas, sei lá...
Eu: Oxi, mas eu gosto de Química e gosto de ensinar, pra que eu iria querer fazer outra coisa?
Ele: É... Mas é que, sei lá, parece desperdício tu aqui, podendo fazer pelo menos uma Engenharia Química.

Parei a conversa por aí, porque o raciocínio que eu iria desenrolar é demasiado longo e deixei reservado para o blog (é demasiado longo, amigo leitor, pode parar por aqui). Para quem não me conhece ou não sabe da minha história ainda, prestei meu primeiro vestibular em 2006 para (pasmem!) Medicina. Sim, Medicina! Onde isso está relacionado com a Química? Vai perguntar a Bohr (piadinha infame envolvendo química!). Mas é exatamente isso. Fiz para Medicina. Os motivos não entram em questão aqui. Ninguém se lembra disso se eu perguntar, porém a todas as pessoas que me perguntavam "E se tu desistir de medicina, vai fazer o quê?", minha resposta era sempre a mesma: Química. Obviamente, ninguém entendia, mas era minha vontade. Eu passei na primeira fase pra Medicina (longeeeeee), mas caí na segunda fase (mais longeeeeee ainda) e resolvi fazer Química (Medicina não é coisa de gente: alerta do blogueiro).

Como muitos deduziram, em 2006 eu estudei DEMAIS. Absurdamente! Absurdamente MESMO! Mas não absurdo para quem faz medicina. Era absurdo para mim. Nunca tive problemas com notas, na escola, mas também nunca fui de estudar demais. Estudava o necessário. Eu fui então realista: Química tinha uma concorrência de 2 para 1, o nível era baixo, pois era um curso noturno, o que implicava em pessoas que trabalham, não tinham tempo para estudar. Isso significa o quê? Se eu conseguisse relembrar a metade do que havia estudado em 2006 e estudasse matemática (que não era bom, e nem sou ainda), passaria com tranquilidade, sem martírio, angústias ou desesperos, como em medicina. Mas todos aqueles que conversavam comigo perguntavam se eu queria fazer Engenharia Química. Quando dizia não, ficavam abismados, perguntavam por que. Muitas pessoas tentaram me convencer a fazer Engenharia, pois era um curso mais promissor. O que eu iria fazer sendo professor se "você quase passa em medicina" (é, terminar o vestibular 450 posições abaixo do último aprovado em medicina é quase passar, porque você passa na primeira fase). Várias pessoas me diziam "Aff, pra que danado tu vai fazer química licenciatura? Tu vai ser primeiro lugar fácil fácil. Faz pra alguma coisa de futuro!" E isso me leva à primeira conclusão sobre o que as pessoas pensam hoje em dia:

1 - Se você é considerado inteligente, deve fazer medicina, direito, enfermagem, engenharia, ou algo muito difícil de passar e que tenha como promessa muito dinheiro mesmo que você goste de veterinária, geografia, zootecnia ou filosofia.

Bom, eu passei (e, de fato, foi em primeiro lugar. o que, segundo um grande amigo, não foi "surpresa nenhuma". Isso é ótimo pra afagar o ego!). Obviamente não vou ser falso modesto e dizer que foi uma surpresa a aprovação. Estudei para passar mesmo e confiava em mim, mas o primeiro lugar foi algo não inesperado, porque todo mundo dizia isso, mas algo que não tinha essa certeza toda (porém, batalhei pelo primeiro sim). E aí começaram mais novos comentários:

Comentário 1: Tu passava em qualquer curso de tecnológica com teu argumento né? Era pra ter feito outro curso, boy!

Comentário 2: Com teu argumento tu entrava em medicina? Se foi perto, tenta de novo!

Comentário 3: Passou em Química? Engenharia Química? Ah, não... Por que fizesse Química ao invés de Engenharia?

Comentário 4: Agora tu vai continuar tentando Medicina né? (resposta negativa) NÃO? POR QUÊ??? Tu realmente quer ser PROFESSOR (que soava quase como: vai se dispor a essa humilhação?)?

Não, eu não tenho rancor de nenhum desses comentários. Sou um rapaz com muito espírito esportivo e levava tudo na brincadeira, apenas me divertia com isso tudo. Tudo o que disse, contudo, deixou-me com uma segunda conclusão:

2 - Enriquecer se tornou mais importante do que se realizar profissionalmente e esqueceram-se de me avisar ou eu sempre fui muito inocente?

Por que se alguém tem um "potencial" para ser um engenheiro químico não pode ser professor?

Parece que se você tem um "potencial", deve gastá-lo todo na sua vida profissional e ser bem rico, mas sem família de verdade. Se você tem "potencial", deve consumi-lo por inteiro, mesmo que isso signifique que sua vida ficará em segundo plano por causa do seu estudo ou do seu trabalho.

Deixa eu distribuir meu "potencial" entre trabalho que me REALIZA, família, Deus e amigos mesmo que é melhor.

Como é que isso se tornou um paradigma da nossa sociedade?


Meu Deus, Meu Deus, o Senhor é muito bom mesmo. Dar livre arbítrio para um bando de doidos... Só com muito amor.



=)



Thiago Luiz


P.S.: Perdoe pelo post tão confuso. Minha história acabou se confundindo com minhas conclusões, mas eu acho que me fiz entender.

9 comentários:

Thiago Mariz disse...

Ah, só para esclarecer: não fiquei chateado com nenhum dos comentários (como já disse). Nem com o do colega da faculdade que serviu de base para o post. Esses comentários não vêm deles mesmos. É apenas um reflexo desse paradigma que dissequei (uau! parece que fiz quase uma análise socio-econômica usando essa palavra) no post. Diria que é como se fosse algo "inconsciente".

Como o Admirável Mundo Novo em que nascemos com tudo que devemos fazer em nossas vidas já pronto. Sem variantes ou espaços para sentimentos. Bem amedrontadora essa visão, não?

André Palhano disse...

heuehuehe

essa história eu conheço bem!
o mais importante vc fez, que foi seguir em frente com seus pensamentos, suas vontades. vc será o resposável pelo seu sucesso!

Guilherme Melo disse...

Interessante cara... e isso é realmente verdade.Muitas pessoas acabam desistindo de seus verdadeiros planos pra seguir esse "padrão"...

Parabéns pelo post como sempre muito bom. Deus abençoe!

Suzane Borba disse...

sei muito bem essa história do alto potencial, você sabe.

concordo com você, mas e se eu fizesse pra artes cênicas ou astronomia? cara, eu ia morrer de fome! kkkkkkkkkkkk psicologia nem conta, não ia conseguir passar o resto da minha vida ouvindo lamentações alheias, não mesmo!

a gente escolhe o primordial pra nossa realização. o restante não fica em segundo plano, somente é adiado pra um outro momento. por isso é que eu digo: minha idade de ouro vai ser um barato! vou fazer tanta, TANTA coisa que até aprender grego já pode ser uma boa idéia pro futuro... kkkkkkkkkkkkkk
meus "inta" e a era dos "enta" prometem!
deixo essa década e mais alguns anos apenas para a dedicação a área jurídica com afinco :)

beijo!!

Thiago Mariz disse...

Eu já fui adepto dessa teoria, Su.

Mas já falaram várias vezes algo correto: nós não temos amanhã.

Ou seja, o amanhã pode não ser tão previsível como imaginamos, ou não ser o suficiente para nós. Ou (pior dos piores) simplesmente pode não existir!

;-)

Unknown disse...

Como sempre boquiaberto aki...

Vanessa disse...

Jesus amado :B, ainda bem que eu tinha essa conta - velha bagarai, admito - aqui no blogspot pra poder comentar :D porque, really, parece que eu me vi refletida nesse post. Ok, não completamente, mas em boa parte ._. (como você achou meu orkut, só Deus sabe, mas ainda bem que achou - e ainda bem que tinha esse link lá, porque adoro ler posts de quem sabe escrever \o/).

Enfim... eu fiz meu primeiro vestibular esse ano... e foi pra Medicina -_-' sei que cometi uma burrice, porque esse ano eu fui MAIS vagal do que em qualquer outro ano - se é que isso pode ser possível. Ainda assim, num golpe de sorte, passei da primeira fase. Mas eu não espero um milagre semelhante na segunda - estou até com pena da minha família, toda sorridente, achando que eu sou uma pessoas superdotada ou coisa do gênero. Quero ver (ou não, na verdade) a cara deles quando não virem meu nome entre os 90 aprovados. HA! A primeira coisa que vão fazer vai ser ligar pra me consolar ou algo do tipo - e sério, eu não ligo se não passar. Claro, ok, ligo. Mas nada muito dramático.
Uma semana depois de pagar a inscrição, me veio uma súbita vontade de fazer Engenharia Química - para o alívio da minha mãe, não havia mais como mudar. Não em 2008, pelo menos. Porque ao contrário do que pensam aí no seu post, sempre que eu dizia pela família que queria fazer Engenharia Química, as pessoas me olhavam com cara de... daquilo e perguntavam "e isso dá dinheiro?!". Pra ser sincera, eu não faço a mínima idéia, mas como você, eu consigo ver uma relação ínfima entre Medicina e Química, sem contar que eu realmente gosto de Química - e, sabendo cutucar no ponto certo, eu posso ser ótima em Matemática.
De qualquer modo (acho até que eu já falei demais aqui), eu dou valor a sua decisão, porque sei que, no momento em que estiver ensinando, você vai receber olhares de admiração, ainda que não perceba. Não daqueles que odeiam Química, esses daí não sabem admirar uma boa matéria XD, mas dos alunos tipo eu, que ficam olhando os professores ensinarem e pensam mil coisas, inclusive "eu queria ser tão inteligente quanto o professor". Sério (e no meu caso, não eram só com os de Química. Os de Biologia também *_*). Eu acho que a questão financeira é importante, claro, mas mesmo em Medicina, se não souber se desenrolar, acaba morando debaixo da ponte. Porque não dá dinheiro, eu conheço bem *filha de gente da área D:*. Trabalha feito escravo pra ganhar miséria no final do mês. Mesmo assim, quis fazer... por 'amor', eu diria. Instindo solidário, ou algo assim.

E eu falei boooosta demais, desconsidere XD
Sucesso em Química (y)

Vanessa disse...

*Instinto

Instindo foi pôdy D':

Romulo disse...

eta vei eu sei o q eh isso
passei na 1 fase pra BC&T e minha familia falando:
"nao faça isso"..."é curso novo, voce nao sabe como vai ser"
"isso vai dar dinheiro?" ( notou como essa pergunta é classica...a tal de dar dinheiro..é quase um requisito básico hoje em dia pra se escolher uma profissao...heheheheh)

Bem depois desse pequeno parenteses em cima, termino por parabenizá-lo por sua escolha e te desejar muito suscesso naquilo que voce escolheu...=D
deus abençoe
shalom