Curta volta

No ônibus, a caminho do CEFET, sobe um homem com uma certa idade, um senhor, por assim dizer. Ônibus lotado, resolvo dar meu lugar a ele. Como ele se encontrava a uma certa distância, esperei alguns segundos por alguma alma gentil que estivesse próximo a ele. O rapaz a meu lado gentilmente levanta e oferece o banco ao senhor. Percebo que se trata daqueles idosos simpáticos, que tentam puxar assunto sempre e agradece dizendo:

- Obrigado, meu jovem. Meus 93 anos agradecem.

Ele não aparentava ter 93 anos. Não mesmo. Começo então a observá-lo com meu canto do olho. Sua inquietação lembra as crianças quando vêem algo novo. Seu jeito de olhar para tudo o tempo todo é intrigante, já que se espera uma posição mais sábia e serena com relação à paisagem que ele vê pela enésima vez. O senhor continua seus movimentos inquietos. Em alguns instantes, pareceu-me que ele me olhava para tentar conversar, mas não tive coragem de virar-me, pois sou tímido para essas conversas ocasionais de ônibus. Já ele não, quando passávamos por um posto de gasolina, falou algo que não entendi. Não sou tão tímido assim, então perguntei-lhe:

- O quê?
- Estou tentando ver meu filho. Ele trabalha nesse posto.
- É? Trabalha de quê?
- Vigilante.

Curiosamente sua movimentação parecia indicar que não o via há anos e que seu filho se preparava para fazer o pronunciamento como presidente da república. Digo isso pelo brilho no seu olhar e sua ansiedade. Quando o sinal abriu, ele se agitou ainda mais:

- Olha ele ali! Aquele de calça azul.

Infelizmente, ou felizmente, não pude vê-lo, pois o senhor me avisou muito em cima, quando olhei já havíamos passado do posto. Felizmente não pude ver seu filho, porque pude, ao invés disso, ver seu sorriso e seu olhar, como uma criança sorri ao ver o pai voltando do trabalho e corre para abraçá-lo. Seu sorriso era genuíno, puro e inocente. Como o de uma criança. Deixou-me embasbacado como o sorriso de uma criança costuma me deixar. Um sorriso que somente um amor pai e filho é capaz de proporcionar. Foi então que pensei, por um momento, que se pudesse pedir somente uma coisa a Deus, pediria isso: ter um sorriso puro como aquele, mesmo depois das piores tragédias que uma vida nos pode oferecer, pois aquele sorriso foi o mesmo que dei nos momentos mais inocentes da minha infância aos meus pais.




=)



Thiago Luiz

6 comentários:

Thiago Mariz disse...

A volta do blog terá textos diferentes, mais pessoais. A força para voltar se deve a um amigo.


Agradeço às conversas que ele tem comigo, que me motivaram a voltar a escrever.

Guilherme Melo disse...

massa cara! \o/

num sei fazer akelas analises, mas axei massa! rsrsrs

Deus abençoe ;)

André Palhano disse...

eu também queria sentir isso!

voltou com grande estilo! nunca pare de escrever =)

Suzane Borba disse...

oooooooowwwwwnnnnnnn
meus olhos ficaram cheios de lágrima! hueheuheue

liiiindo o texto, adorei! adorei mais ainda porque teve aquele gostinho de "obaa, ele voltou a escrever!" :D

obs: eu adoro esses velhinhos simpáticos, pense! lembra muito minha avó :)

Jullyana disse...

quero um dia poder ver e 'sentir' esse sorriso.
texto maravilhoso,parabéns!
ah,e por favor...não deixe de postar (:

Jullyana disse...

PS: Jullyana Lucena =P