Antes e depois

Hoje, uma postagem mais pessoal. Talvez a mais pessoal desde que comecei este blog. Falo sobre minha conversão. Digamos "dupla-conversão". Primeiramente à Deus, depois à radicalidade que Ele nos pede e ao Shalom. É possível que fique bastante longo. Enfim, vamos à história.

Tudo começou no dia 02/03/2007, quando fui para uma missa (salvo engano, não tenho certeza) na comunidade de Potilândia, onde morava. Naquela época eu era católico de IBGE um pouco melhorado, porque o católico de IBGE padrão nem à missa vai, ele só diz que é católico nas épocas dos censos. Eu ia à missa todos os domingos, mas não por méritos meus, e sim da minha mãe, que sempre pedia-me para eu ir. Nesse dia, na saída da missa, me abordaram pedindo pela minha presença no I Encontrão de Jovens da Paróquia de Morro Branco. Fui contundente com meu "não". Tentaram de todas as formas, inclusive pessoas que não costumavam falar comigo (dando nome aos bois, Jullyana). Ela tentou com tudo que lhe foi possível, mas não conseguiu. Resolveu então apelar e chamar o Padre (Padre Antônio) que havia celebrado a missa do dia. Ele veio me pedir com uma simpatia que me foi impossível negar, menos por vontade do que por educação. Sua simpatia por mim veio desde aquele dia e tinha eu também muito apreço por seu jeito discreto, mas sempre sorridente. Deixei de ir jogar bola para ir ao encontro.

Durante todo o encontro estive parado, apenas observando. Contudo, na Adoração ao Santíssimo, Ele mostrou o quanto me amava. Se não foi a vez que mais chorei na minha vida, com certeza está no Top 5. Senti-me amado. Ele me conquistou somente com aquele momento. A minha vida hoje (mais modificada ainda) no Shalom só aconteceu por causa daquele início. O problema é que eu tinha sentido todo o amor dEle em minha vida, mas e aí? E depois? Eu fazia o quê? Não me disseram como prosseguir em seu caminho. Chamaram-me para o grupo de jovens. Ok, mas e dentro de casa? Eu faço o quê? Após menos de um mês, achei-me coordenando esse mesmo grupo de jovens do qual participei de uma reunião. Isso menos de um mês depois de ter sido tocado. Como não sabia de nada, simplesmente fui concordando, afinal eu queria trabalhar em prol da evangelização dEle. Comecei a namorar com a mesma Jullyana que me evangelizou. Tudo isso num intervalo de dois meses.

Não sabendo eu como amar, amei desmedidamente. Doei-me por inteiro ao namoro. Vivi em função dela. E, aprendi depois de um belo tapa na cara, só se ama desmedidamente a Deus, porque Ele é perfeito, Ele me criou, Ele me amou, Ele sabe o que fazer com tal pequeno amor (e é pequeno, não te iludais, amigo que me lê). Ela foi meu "deus" por um ano e um mês. Até o fim do namoro, não poderia reclamar. Sempre tinha sido meu ombro amigo, meu "porto seguro", assim a chamava. A questão é que, mais uma vez, não se ama desmedidamente um ser humano, porque ele é cheio de falhas e limitado como eu e você. Ninguém é digno de amor sem medidas, pois não sabemos o que fazer diante disso. Esse mesmo amor é pouco para Deus, porque Ele SIM nos ama sob todas as condições. Para uma mera pessoa, é demais, porque nem todo mundo consegue amar assim. Então, se um dia eu te amo, no outro já não te tenho amor. Foi o caso dela. Obviamente não foi do dia para noite, mas, cego como estava, não percebi a mudança (que aconteceu por culpa dos dois, não sou adepto da tese "vilão e mocinho"). Para definir como me senti ao término do namoro, usei a seguinte expressão no meu testemunho dado no Shalom:

- Quando a minha namorada acabou comigo, ela acabou comigo literalmente.

Para entender o que está por trás dessa frase: nasci em 1989, morei até 1993 em Recife, mudei-me para Imperatriz em 1994, voltei em 1996 para Recife, em 2002 vim para Natal. Ou seja: o máximo de tempo que passei num local só, sem mudanças, foram esses seis anos que me encontro aqui. E o que isso tem que ver com o fim do meu namoro? Durante a minha vida, confiei em inúmeras pessoas. A maioria, graças a Deus, não me decepcionou, mas as mudanças constantes tiraram de mim uma amizade duradoura e constante. Em Recife tive um grande amigo, que ainda converso mas, óbvio, não é a mesma coisa. Em Natal tive um num colégio, mais um em outro, e assim sucessivamente. Minhas amizades e confiança iam pulando de uma pessoa para outra. Quando me imaginava namorando, imaginava justamente como foi o meu: dois namorados que, acima de tudo, são grandes amigos. O problema é que, apesar de serem grandes amigos, eles também precisam de outras pessoas. E eu me privei delas, depositando toda a minha confiança nela e em sua forma limitada de amar um ser tão limitado como eu. Por isso, quando ela acabou comigo, ela acabou comigo. Cheguei ao fundo do poço. Cria que poderia confiar nela, e aconteceu isso. Não soube o que fazer, como reagir, como continuar sem meu "deus". Era-me impossível. Minha imaturidade ao reagir talvez aniquilou a chance de uma amizade bonita, afinal, sempre dizíamos um a outro, não nos aproximamos depois de 5 anos a troco de nada. Comecei a perceber o quanto era querido. Minha ex-sogra, assim que soube do término, chamou-me para conversar. O carinho com que ela me tratou e o quanto me babou naquele almoço, deixava transparecer que eu era o filho dela, e não Jullyana, e ficará para sempre marcado em minha memória. Aproximei-me ainda mais de minha mãe, que conversava com frequência sobre como reagir. Apesar de tanto amor e carinho, era-me insuficiente, e eu desabava em doenças oportunistas, como virose, gripe. Não conseguia me alimentar direito, quando comia demais tinha vontade de vomitar, quando comia de menos ficava fraco. Emagreci, estava mesmo no fundo do poço. E em meu desespero tranquilo, tentava confiar em qualquer pessoa que me aparecesse pela frente, na esperança que ela fosse meu verdadeiro "deus". Na esperança de que encontrasse alguém que estivesse disposto a viver em função de mim e eu em função dela, achando ser isso amor.

Então, um dia, tudo mudou. Minha mãe convidou-me para ir assistir a uma missa no Shalom. Uma missa, nada demais, já havia ido para tantas outras. Até que alguém avisou que iria haver um Seminário de Vida no Espírito Santo, nos dias 11, 12 e 13 de julho. Resolvi que iria, porque um retiro seria um bem para mim. O problema é que, na semana do Seminário, descobri que iria ser fiscal da prova do CEFET, justamente no dia 13. Fiquei na dúvida. Na quinta-feira, decidi que iria para os dois primeiros dias e no domingo voltaria para ser fiscal. Minha mãe pediu-me que ficasse, pois o momento mais interessante do Seminário seria no dia 13. Disse que iria pensar. Caso o evento me agradasse, permaneceria.

Durante todo o seminário, estava mais sensível do que nunca. Uma pessoa que não me conhecia até comentou comigo, dizendo "Ei, tu tá sensível que só, não é?". E realmente estava. No sábado pela manhã (dia 12), começaram a cantar uma música que não tinha nada demais, mas só pelas lembranças que ela me trazia comecei a chorar. Nas pregações, mesmo sem oração, eu me questionava se o que vinha fazendo da minha vida estava certo. Falaram do amor de Deus, e parecia que era só para mim que falavam. Passou-se o dia 12, e mais ou menos de 18hrs, avisaram que iríamos ter uma Adoração, como a que havia me transformado há um ano, 4 meses e 9 dias atrás. Meu coração chegou a pulsar mais forte, diante do que imaginava que iria acontecer. Ao entrarmos na Igreja, avisaram:

- Quem quiser, pode sentar-se próximo ao Santíssimo.

Dirigi-me a Ele e sentei-me praticamente aos Seus pés. Enquanto a oração acontecia, eu permanecia estático olhando diretamente para Ele. E comecei a me surpreender com meu ar de serenidade, que por um momento me pareceu até dureza de coração. Nenhuma lágrima era derramada, apesar de estar bastante sensível. Somente olhava-O. Não conseguia entender por que não estava sentindo nada, apesar de estar tão necessitado do amor de Deus. Foi aí que percebi que, apesar de não sentir nada, estava sendo amado. O coordenador da Oração disse:

- O ministro irá retirar o Santíssimo.

Nesse momento meu coração se contraiu por inteiro em dor. Senti saudade. E foi aí que percebi o quanto Ele tinha me amado naquele momento. Amado-me tanto que Ele só iria andar alguns metros, mas mesmo assim tinha saudade. Saudade do Seu olhar amoroso comigo. Então só conseguia balbuciar, ante lágrimas desesperadas:

- Não vai embora não. Por favor, não vai embora.

Chorava de uma forma absurda e desesperada, até que me disseram: "Vá lá pra trás para se acalmar". Então eu fui. Ao chegar lá, o ministro que havia retirado o Santíssimo, aproximou-se de mim e me abraçou. Senti-me amado mais ainda, então ele me disse:

- Esse abraço é de saudade, viu?

E ali era Deus que me falava diretamente. Chorei mais ainda. Só consegui sentar, colocar as mãos em meu rosto e voltar a chorar. Chorava copiosamente. Quando pediram para partilhar o que havia acontecido, nem conseguia falar, porque começar me fazia lembrar o que Ele tinha feito naquele lugar e voltava a chorar. A primeira coisa que fiz foi ligar para minha mãe e dizer: "Amanhã eu vou ficar aqui."

Chegou então o domingo. O grande dia. Após uma pregação, avisaram que iríamos ter outro momento de Oração. Os servos, que trabalhavam no Seminário, iriam vir para rezar nos participantes. Estava tão sensibilizado, que somente em começar a dizer "Vinde Espírito Santo, enchei..." foi o suficiente para me fazer chorar. E ali Deus me renovou por inteiro. Veio me falar justamente da minha confiança. Que eu não sabia mais em quem confiar, que me encontrava desesperado, porque tinha confiado totalmente nas pessoas, quando o meu melhor amigo era Ele mesmo. Mas que naquele momento Ele vinha selar a nossa amizade para sempre. E para sempre não é só até morrer. Ele me falava pessoalmente, e eu chorava. Como se renascesse.

Depois dessa oração, fiquei sentado somente pensando o que tinha acontecido naquele lugar. Ainda chorava, mesmo depois do fim da oração. Quando estava me tranquilizando, o violão começou a tocar, e só de ouvir alguns acordes, voltei a derramar mais lágrimas. Então, a pessoa que rezou por mim, e uma das que mais se aproximaram de mim, Miguel (grande Miguel!), me chamou e fomos conversar. Ele então rezou mais ainda por mim, e veio falar novamente em confiança. Chorei mais um pouquinho (texto com coesão ZERO!) e então saí.

Cheguei no Shalom (o Seminário foi num colégio) completamente renovado. Em estado de graça, por assim dizer. Passei uma semana em estado de graça e de escolhas para a minha vida. Todas elas foram motivadas pelo amor que Deus havia me dado naqueles dias. Se Ele me amava tanto, não precisava procurar amor em outro lugar. Resolvi obedecê-Lo, como Ele esperava de mim desde meu nascimento, mas nunca me cobrou, porque me deu o direito da livre escolha...


E assim, hoje eu estou no Shalom há 4 meses (recém-nascido ainda), esperando por mais episódios como esses! E isso acontece mais de uma vez, o Congresso que o diga (tem gente que vai me entender)!

No próximo post eu falo do Congresso e das mudanças que aconteceram comigo lá x)


Perdoem o meu post tãoooooooooo longo...


=)




Thiago Luiz

4 comentários:

Thiago Mariz disse...

Post que me mostra o estilo mais pessoal do blog.


O mais pessoal que já escrevi aqui...



=)

Guilherme Melo disse...

Testemunhos como esse que nos fazem lembrar que realmente vale a pena ser todo de Deus...

Agradeço a Deus por ter tido a graça de te ver sendo alcançado por esse amor!

Deus abençoe, irmão! estarei rezando por vc

André Palhano disse...

emocionante! como sempre =)

Vanessa disse...

Er... primeiro ponto meu que é contrário ao seu, haha! :D

Lembro de você ter comentado em outro post que era 'sentimental', ou algo assim. Já eu, não sei bem explicar o motivo, sempre fui muito rígida comigo mesma e procurei muito ser menos vulnerável às... uhm... adversidades da vida, eu diria. Não estou criticando de jeito nenhum o seu relacionamento anterior, acho mesmo que é necessário haver essa... não sei, dedicação e o companheirismo.
'Tava até comentando com a minha mãe ontem sobre o que falarei agora.
Desde criança, sempre fui muito isolada, sozinha. Utilizando-se de um termo ideal: independente. Não uma solidão deprimente ou... sei lá, nunca me senti sozinha. Não digo que fui menos amada, porque sei o quanto a minha família necessita de mim e me ama assim como eu necessito e a amo de volta. Mas pelo fato do meu irmão (mais novo) sempre ter sido mais carinhoso do que eu, era ele que sempre estava nos braços da minha mãe. Nunca me incomodei seriamente com isso, porque, de um modo infantil, desejava não depender das pessoas. Nunca gostei de ser um 'fardo', ainda que realmente não o fosse pra minha mãe. Ok, acho que não fez muito sentido, hoho. Enfim...
Dessa forma, apesar de nunca ter namorado ninguém, tenho certeza de que não me dedicarei tanto (o famoso "mergulhar de cabeça") num futuro relacionamento como me dedico numa amizade - e mesmo sendo péssima em demonstrar amor, isso se aplica à família também. Resumindo, eu sei que um dia posso encontrar alguém pra amar verdadeiramente, e não digo isso pensando que um dia vai acabar, mas sei que é um sentimento sujeito às interferências alheias ou a do tempo. É meio que uma "barreira" para o sofrimento não passar pra mais fundo de mim, algo assim. Meio que evito sofrer, mesmo que eu não seja exatamente uma pessoa fechada a esse tipo de coisa - por isso, alguns me chamam de 'negativa'. Nem acho isso, eu só não crio muitas expectativas em um aspecto da vida (o de relacionamentos - minha avó quase me deu um sermão quando disse que não pretendia casar, porque não acho que seja exatamente necessário isso pra formar uma família :~, aiai T_T eu ainda quero ter 3 filhos, ué. Ok, eu já falei demais *micooo*) - na verdade, transfiro essa força de vontade e esperança em meios que me levarão a atingir a minha auto-satisfação. Sendo curta, mas não grossa: tenho certeza que esse meu instinto de independência foi alimentado no dia que meus pais se divorciaram e ele saiu de casa. Não foi um término conturbado, mas eu tinha 10 anos e testemunhei o sofrimento da minha mãe. Passamos por dificuldades, mas isso nos ajudou a... "subir um degrau". Acho que se não fosse por isso, meu relacionamento com ela não seria tão maravilhoso como é hoje. E digo e repito (ainda que muitos sejam contrários às minhas opiniões - novidadeee XD): a separação deles foi mais do que necessária. Abriu os meus olhos, os dela e... eu não sou só filha dos dois. Eu sou amiga :)

Caraaaamba, eu falei demais. E coisas que não têm NADA a ver XD eu me empolgo às vezes. Tenho certeza que você não supera minha tagarelice, haha XD
Se quiser, eu encurto os comentários, ahiuahiuhaiu.
o/