Abaixo o senso-comum
Sabedoria que não sabemos de onde vem: “só se sabe como essa pessoa era querida no seu funeral”. Hei de comprová-la errada com mais um senso comum: “Toda regra tem exceção.” Não sei se estou sendo a primeira, mas, de fato, comigo, o que disse no começo não está funcionando. Até agora, contei 18 pessoas. Mas retirando a esposa, os três filhos, suas esposas, minhas duas irmãs e meus dois cunhados com seus quatro filhos, sobram apenas três. Tudo bem, não é tanta gente assim. Todavia, três pessoas ainda seria muito considerando a vida que vivia.
Analisando um a um e seus comentários tão hipócritas. Dúvida pertinente: por que quando morremos viramos santos aos olhos do outro? Costumeiramente, quem fala a verdade sobre o que pensa daquela pessoa é um insensível ou tantos outros adjetivos pejorativos. Voltemos aos presentes:
Rafaela: foi minha sócia por apenas dois anos, meus últimos dois. Nunca tivemos uma relação sólida. Que eufêmico! Em verdade, brigávamos tanto quanto possível. Evitavamo-nos. Só mantínhamos a sociedade, pois, apesar de tudo, ela e eu formávamos uma bela dupla nos negócios.
Comentário que me fez falar sobre ela: “Eduardo era um homem de um enorme coração! Era nítido isso no nosso cotidiano.”
Dúvida pertinente: Em que momento eu fui generoso com ela ou com qualquer pessoa em sua frente?
Luiz: “amigo” da família. Por algum motivo que até hoje desconheço, costumava freqüentar minha casa há mais de oito anos. Sempre achei um tanto suspeita essa atitude, relatando inúmeras vezes meu sentimento sobre isso com Flávia, minha esposa. Fui taxado de ciumento, paranóico, doido. No final das contas, estou certo. Não esperou nem que eu esfriasse e já está abraçando-a, consolando-a por assim dizer.
Não foi necessário nenhum comentário para falar sobre ele, apenas sua atitude.
Dúvida pertinente: Há pessoas sem nenhuma consciência nesse mundo?
Apesar de tais pífias atitudes, os pensamentos que fluem na mente dos meus familiares são:
Sobre Rafaela: “Que mulher maravilhosa! Sabíamos que Eduardo nunca foi fácil de lidar. Ainda assim passaram tanto tempo juntos que hoje ela o idolatra!.”
Sobre Luiz: “Isso sim é um amigo! Vivenciou tudo com essa família e está presente até no momento mais difícil!”
O leitor atento percebeu que faltou apenas uma pessoa. Reservei o final para ela, pois é digna de tal honra.
Bárbara: amiga de juventude. Falo somente agora, pois não a via há mais de quinze anos. Não tínhamos mais nenhum contato. Enquanto jovem, Bárbara foi a melhor amiga que pude ter. Vivenciamos alegrias e tristezas, descobertas e aventuras. Como mulher, aconselhara-me por incontáveis vezes sobre o que fazer em relacionamentos, assim como tentei ajudá-la. Mas a distância do mundo moderno nos afastou. Tentamos por telefone manter a amizade. Falhamos veementemente. Jamais esperei-a hoje. Mas ela apareceu.
Um momento, ela está se aproximando do meu caixão. Seus olhos estão marejados. Como ela manteve tão grande sentimento por tanto tempo? Há algo em sua mão. Creio que seja um papel, ela parece vir deixá-lo a meu corpo. Soltou-o. O que há nele?
“Te amei ontem e te amo hoje, amigo.”
Era isso que continha o papel.
2 comentários:
agora fiquei com vontade de ler =)
"Na morte a gente esquece
Mas no amor agente fica em paz"
Amigo É Pra Essas Coisas - Silvio da Silva Jr. e Aldir Blanc
Postar um comentário