Aquilo que não se explica
O filho adentra a sala. Seu pai se encontra apenas sentado, refletindo. Sua feição deixa transparecer que ele esperava por algo. Talvez a volta do seu filho. Ou seria essa a certeza? De qualquer forma, ele chega. Está chorando. O pai levanta-se tranquilamente e o abraça. As lágrimas do seu filho são incessantes. Permanecem em silêncio. O choro aumenta, transformam-se em soluços altos. A primeira frase é dita.
- Tenha calma, meu filho.
Nada acontece. O choro continua, como se fosse a única resposta que o filho pudesse dar. O pai o entende. Ainda não entende o ocorrido, mas sabe que em alguns momentos saberá. A dor precisa ser extravasada. Então, continuam em silêncio. A única coisa que se nota é o carinho. Ao abraço é adicionado um carinho nos cabelos do filho. Após alguns minutos, em que o choro ainda permanece incessante, o pai guia seu filho ao sofá e o deita em seu colo. Aquilo aumenta as lágrimas. Por quê? Seria aquilo surpresa pelo carinho? Não se sabe.
A primeira frase do filho é dita.
- Pai... Tá doendo tanto.
- O que aconteceu, meu filho?
- Por que confiamos nas pessoas? Elas sempre nos fazem sofrer. Cada vez que abro meu coração, ele é despedaçado.
- Nem todas as pessoas são assim. Mas isso acontece porque somos imperfeitos. Somente isso. Às vezes nem temos a intenção de magoar. Pelo fato de não sermos perfeitos, nossos atos também não o são. Por isso ferimos o outro.
- Eu pensei que uma amizade fosse para sempre.
- Algumas são. Mas poucas. Muitas vezes, nunca temos um amigo até o fim da vida. Bem aventurados os que têm. As pessoas entram e saem de nossas vidas. Todos os dias. Quase todas essas “entradas e saídas” nem observamos, mas, de alguma forma, ela marcou tua vida. Algum dia tu perceberás, mas não saberás quem o fez. Outras dessas são mais marcantes. São essas que doem. Mais do que um amor, uma amizade machuca, pois somos ensinados que ela é para sempre. Não é.
- Por que o senhor não me disse, pai?
- Nós nunca escutamos o que os outros nos ensina, filho. As palavras sempre são jogadas ao vento. O que importa é o que você vivencia. Jamais fiz por mal. Mas sei que não me escutaria. Imagina como você ficaria se eu lhe dissesse que seus melhores amigos não estarão contigo por muito tempo.
- Teria ficado com raiva.
- Eu sei, meu filho. Quero que saiba que a mim terás para sempre. E é para sempre!
- E se um dia eu fizer algo que o machuque?
- Não importa. Eu sempre estarei a teu lado. Não importa se trair toda a confiança que eu depositar a ti, pois ela será infinita. Não importa se você se machucar e me machucar também com isso, pois sempre que o vir chegando para me abraçar meu coração será renovado. Não importa se me abandonares e voltar cem anos depois. Se vivo estiver, em júbilo te receberei. Tudo podes fazer para atentar contra nosso relacionamento, meu filho, mas ele para sempre será imutável. Tu terás a mim, enquanto essa terra habitares. Pode acreditar em mim.
Ao terminar, foi que o pai pôde observar o choro compulsivo do filho. Até tentou dizer algo, mas não conseguiu. Aquilo era surpreendente para os dois. O filho jamais imaginara haver alguém assim depois do que aconteceu com ele e seus amigos. O pai percebera naquele momento que seu sentimento pelo filho era tão grande que o deixava em choque. Para o pai, tão natural. Para o filho, tão impensável.
Até tentou, mas não conseguiu parar. Suas lágrimas não lhe obedeciam. Só conseguia pensar como não havia ido ao encontro do pai para confiar nele antes.
- A minha confiança terás para sempre, meu filho – somente isso disse o pai.
- Pai, por que o senhor confiaria em mim mesmo que eu o tivesse machucado?
- Porque eu te amo, filho.
4 comentários:
eu espero que eu seja uma das amizades que irá durar para sempre =)
Deus te ouça, meu caro pensador mais que escritor =)
amor, meu bem.
só amor.
lindo..
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