Sonho e realidade, Luther King
“Eu tive um sonho. O maior da minha vida. O mais abstrato. O mais fantasioso. E, principalmente, o melhor. Nele, não havia pranto. Não havia cor, as pessoas eram todas das cores que suas almas reluziam e suas almas eram todas de um tom só, pois éramos todos bons. Nem choro nem ranger de dentes. Cada um tinha somente uma única outra parte. Via a todo tempo abraços de alegria crescente, porque todos nós conseguíamos enxergar aquela luz sobre o ombro de sua outra parte, como Paulo Coelho me disse um dia. Lágrimas caíam de alegria, não de tristeza. Não havia ódio, nem rancor. O mundo era enorme e cada um tinha a possibilidade de viajá-lo por inteiro a qualquer momento que quisesse. As pessoas conversavam entre si mesmo sem conhecer um ao outro. Não havia países nem fronteiras. Tudo era ‘Patrimônio da humanidade’. A humanidade, nesse sonho, aprendera o significado da palavra humano. Todo planeta fora humanizado. Ninguém desferia golpes físicos ou morais sobre aquele a seu lado. Tudo era distribuído de acordo com as necessidades. Sentimentos de tristeza, ódio, rancor só eram conhecidos em livros de Shakespeare e outros clássicos. A nostalgia inexistia. Ninguém achava seu tempo pior do que o de outrora. A saudade não existia, pois não havia morte, pois já não éramos corpos, somente alma. Todas eram imortais. Quando o corpo jazia, não mais emanando sorrisos ou abraços, já que nele não habitava mais uma alma, as pessoas se regozijavam, porque entendiam que ela havia partido para uma liberdade contínua e eterna: a liberdade dos sentimentos. Havia festas quando um corpo falecia, rituais eram realizados para que aquela alma tivesse força para resistir por toda a eternidade.
“Mas um dia, um homem não entendeu o motivo pelo qual, tendo ele toda a comida para distribuir a todos, tinha que ficar com a mesma quantidade que um ficava. Resolveu então, levar o dobro do que normalmente levava. Uma família, então, não recebeu comida e adoeceu. A vila chocou-se com tal notícia. Médicos, que aprendiam apenas na teoria a sua arte, pois havia mais de 300 anos que ninguém sofria de nenhum mal, foram chamados e descobriram que a causa daquilo foi a falta de alimentos. Pela primeira vez em três séculos, houve revolta e ódio. Mataram o desumanizado. Então, sua família e amigos, resolveu vingar-se e passou a assassinar os acusadores de seu ente querido um por um a cada anoitecer. Criaram uma cúpula e selecionaram presidente, diretores e conselheiros com direito a voto. Trabalharam dia e noite para encontrar os vingadores, mas eles saíam-se da perseguição como felinos. Inventaram leis, partidos e um clima de revolta criou-se na cidade.
“Após mais de 6 meses, capturaram a esposa do ladrão. Antes de decepá-la, o carrasco perguntou-lhe:
- Você tem um último pedido?
- Sim. Gostaria de explicar a razão do ato do meu marido.
- Tem um minuto – disse, ativando a contagem regressiva automática.
- Suas gerações anteriores conheceram a fome, a miséria, as lutas, o desespero. Venceram tudo isso para contar-lho. Desde criança, ele tinha o dom de ver coisas que aconteciam com alguma antecedência. Somente eu sabia, pois tinha medo de achá-lo estranho demais para viver no planeta ‘humanizado’. Dois dias antes de ele receber toda a comida para distribuir à população, teve um sonho que mostrava uma situação desoladora em termos de alimentos. Não conseguiu ver por qual motivo, apenas previu que aquilo ocorreria em apenas dois anos. Por isso, meu marido calculou que, se sua família se alimentasse com a metade do que freqüentemente se alimentava e ele guardasse o dobro de comida que comíamos normalemente, sobreviveríamos à...
Antes do fim de seu discurso, a contagem zerou.”
3 comentários:
fabuloso!
escrito por Luther King antes ou na própria déc. de 60 (não sei quando) e nem por isso deixa de ser atual.
certas figuras nunca morrem, assim como suas obras.
obs: esse blog tá ficando louco...
postei esse comentário e depois apareceu como comentário excluído! votz! Oo
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