Essa incapacidade nos leva a correr buscando o inalcançável. Como é belo o conhecimento, mas como ele nos engana. O mesmo erro de Adão: "Certamente não morrereis. (...) No dia em que comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, conhecedor do bem e do mal." E a serpente continua a nos enganar. Sereis como Deus. Então, corremos ao alcance de tudo conhecer. Buscamos livros, filmes, peças, quadros, cidades, países, ruas. Conhecer torna-se um fim em si mesmo.
Como nos traz conforto o dinheiro e o poder. Uma vida sem dificuldades. O que nossos ancestrais conseguiam através da luta, guerra, morte, conseguimos ligando o microondas. Ou ordenando a alguém que o ligue. Entretanto, alimentar-se não é mais o suficiente. É preciso um carro, uma casa, um celular, um computador, uma viagem. É preciso ser universitário, graduado, mestre, doutor, político, presidente. É preciso alcançar o topo da sociedade. Alcançamos o necessário? Não. É preciso dois carros, dois celulares, dois computadores... É preciso usufruir do poder, aniquilar os que anseiam pelo mesmo. Como? Conseguindo mais. É preciso matar, mostrar-se mais evoluído, diria Darwin. Possuir torna-se um fim em si mesmo.
Somos escravizados pelo nosso sonho de liberdade. Escravizados pelo nosso anseio de independência. Imaginamo-nos perenes. Eternos. Não. Não nos vemos assim, porque não vemos. Na verdade, vemos apenas nossas sombras. Ou estamos com nossos olhos cegos pelas escamas. Referências a isso não faltam na literatura.
Talvez, um dia, cairemos do cavalo. E então? Mais uma vez, a nossa limitação e incapacidade de admiti-la trará a ideia de que devemos recompensar o tempo perdido. E eis que esse é o nosso novo senhor. Escravos continuamos. Correndo.
Disse o filósofo Paul Virilio: "Arrebatados pela força monstruosa da velocidade, não vamos a lugar algum, contentamo-nos com a tarefa de viver em benefício do vazio da velocidade." Terminamos a vida, então, sem conseguir responder: afinal de contas, quem és tu? Para onde vais?